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Atualizado: 28 de nov. de 2019

Cortiços retratam o abandono do Estado aos mais necessitados



Entrada do Cemitério do Paquetá, próximo aos cortiços da zona central da cidade de Santos (Foto:Milena Estela @milena_estela)


Por Lucas Leite


A vida no bairro do Paquetá, na região central de Santos já foi muito diferente do que é atualmente, repleta de cortiços e moradores de rua, mesmo sendo o núcleo de prédios do poder público municipal e de grandes empresas aduaneiras.


O bairro também abriga o Cemitério do Paquetá, o único na cidade até 1892, construído para afastar a necessidade de sepultamentos nas igrejas, mas não é exagero dizer que, mesmo com pouca manutenção, o cemitério está sendo mais bem cuidado ou menos maltratado, do que os moradores dos cortiços do Centro de Santos. Nem mesmo a arquitetura clássica dos casarões da região é capaz de esconder a triste realidade que existe na parte interna das casas, responsáveis por habitar centenas de famílias santistas. São os chamados cortiços.


A umidade nas paredes provoca um odor angustiante e indigesto, enquanto as estruturas vulneráveis fazem parte das diversas preocupações frequentes dos moradores, que ainda têm de lidar com a falta de privacidade gerada pelo excesso de pessoas compartilhando um mesmo ambiente, alguns, inclusive, sem janelas e com apenas um banheiro para várias pessoas.


A possibilidade de transmissão de doenças diversas também é motivo de alerta para os habitantes dos cortiços, já que os altos níveis de umidade e o acúmulo de lixo no entorno contribuem para a proliferação de ratos, baratas e lacraias, que aparecem nos cômodos rotineiramente. O esgoto doméstico precário é outro marco do triste cotidiano encontrado no cortiço. É comum observar poças de água e fezes de animais por todos os cantos das casas.



Umidade nas paredes e estruturas comprometidas são um dos maiores problemas dos imóveis do cortiço (Foto:Milena Estela @milena_estela)


A letra de “Sozinho”, canção que ficou famosa na voz de Caetano Veloso, pode retratar o sentimento destes moradores em relação ao abandono do Estado e de parte da população santista, que parece indiferente ao que acontece na região central. Frases da música como “quando a gente gosta, é claro que a gente cuida” ou “onde está você agora?” são o símbolo do desdém proporcionado pelos “representantes do povo” para com seus cidadãos. Ou eles não são considerados cidadãos?

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